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O desanimo dessas eleições é a falta de projeto.

O artigo abaixo é do Prof° da UFPR Cesar Sanson,a qual analisa o desanimo
dessas eleições,consequência pratica da falência do projeto Petista
(democrático e popular) como um projeto de esquerda que mandou
muiitos militantes bons de volta pra casa
a qual ele analisa em três períodos.
Minha opinião é que até hoje nunca vivi uma eleição tão
morna,sem graça é a falta de debates...
e quando há candidatos programáticos de esquerda
como o Ivan Valente a midia boicota,sequer divulga nada mas
também é desalentador esse refluxo dos Movimentos Sociais.
Essas eleições merecem uma reflexão mais apurada,mas até o dia 05
tem chão (ou campanha) o ruim que não vou fazer campanha
esse ano para me formar,porém queria tanto participar
da campanha do Bastos em Osasco.

Saudações Socialistas
Jefferson Henrique

9/9/2008
A militância e as eleições: do entusiasmo ao desencanto
Cesar Sanson

As eleições 2008 são acompanhadas por grande apatia por parte crescente de militantes que outrora vibravam com as eleições. Já não se vêem as bandeiras em punho ou desfraldadas nas janelas dos carros, como tampouco as caminhadas, as panfletagens,o debate permanente nas rodas de conversa, o entusiasmo com os debates televisionados que eram imperdíveis.
O encantamento com as eleições se foi. Quais as razões?
Cesar Sanson, analisa o afastamento de parcela significativa da militância social com a luta política partidária. Segundo ele, três períodos identificam o histórico da militância, principalmente cristã, com o partido político: a desconfiança, o entusiasmo e o desencanto.
Cesar Sanson, mestre e doutorando em ciências sociais pela UFPR, é pesquisador do Centro de Pesquisas e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT, de Curitiba, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Eis o artigo.
As eleições municipais acontecerão daqui um mês e o clima é de grande apatia. A rigor o pouco entusiasmo com as eleições é normal no conjunto da população, mas junto a militância nem sempre foi assim. Basta que lembremos dos anos 80 e mesmo do início dos anos 90 - à época a vibração com o processo eleitoral arrebatava a militância e as campanhas começavam seis meses antes do pleito eleitoral.
As atividades de rua tomavam conta da agenda dos militantes e não raro um bom dia de campanha começava às 5hs da manhã nas portas de fábrica e termina às 22hs no comitê discutindo estratégias de campanha.
Os finais de semana eram considerados o filé mignon das atividades eleitorais, realizava-se os "arrastões" ou "visitaços" nos bairros para, de porta em porta, conversar e convencer os eleitores de que a melhor opção eram os candidatos do Partido dos Trabalhadores.
Tampouco era incomum os militantes retirarem do seu bolso recursos financeiros para viabilizar as atividades. O carro e a casa que se tinha, quando se tinha,tornavam-se uma extensão do aparelho partidário.
A militância atuava em duas frentes: ideológica e agitação, e via de regra, as duas misturavam-se. A militância petista era temida pelos partidos rivais em função do seu preparo ideológico e aguerrimento. De bandeira em punho e língua afiada, costumava-se dizer que um militante do PT valia por dez de qualquer outro partido. Viradas sensacionais aconteciam em função da força da militância nas ruas.
Esse tempo se foi e não retornará. Ele ainda existe na vida de um ou outro militante, porém como exceção e não regra. O grosso da militância se recolheu e assiste as eleições desoladamente. Há quem acredite que o entusiasmo dos anos 80 ainda voltará. Ilusão.
Três fases identificam a participação dos militantes petistas, principalmente dos cristãos no mundo da política. As fases da desconfiança (1978-1986); do entusiasmo; (1986-2002) e do desencanto (2002 para cá). Essa divisão é frágil, porém serve para ilustrar momentos distintos daqueles que se envolveram com a militância política.
A primeira fase: desconfiança
No começo, logo após o surgimento do PT, muitos olhavam o partido com certa desconfiança.É inegável que os cristãos foram uma das forças que estiveram na origem do PT - junto com os que vieram da luta armada e os sindicalistas, mas não mergulharam de cabeça na militância política. Os militantes cristãos priorizavam a organização popular, o trabalho de base e estavam sobretudo nas Ceb's, nas pastorais sociais e movimentos sociais. A relação com o partido se fazia de forma ambígua, por um lado reconhecia-se a originalidade de um partido que surgiu das lutas sociais, por outro, havia uma velada crítica a concepção de partido
político, como instrumento que visava a tomada de poder.
A formação dos cristãos se fez na crítica ao vanguardismo da luta política de matriz marxista-leninista e os partidos de esquerda no país haviam tomado esse rumo, temia-se que o PT fosse por esse caminho.
Além disso, o poder, aquele que está contido no aparelho de Estado, sempre foi visto por essa militância como fonte de autoritarismo, corrupção
e centralização.
Para os cristãos, poder e participação não combinavam. Essa visão, tida como basista,encontra a sua fonte na iniciação dos cristãos no mundo da política realizada através das Ceb's, dos círculos bíblicos, das pastorais. Uma iniciação eivada por determinada concepção de Igreja da libertação na qual se apresentava um mundo maniqueísta. De um lado, estão os maus, os opressores, os patrões, os poderosos, os corruptos. De outro lado, estamos nós, a base, os oprimidos, os justos, os éticos, os bons.
Essa visão maniqueísta, transpondo categorias bíblicas com pouca mediação sociológica,fez a "cabeça" dos cristãos e por isso olhava-se a luta política institucional com certa desconfiança. Acreditava-se que os reais avanços na conquista de direitos e dignidade se davam na luta social a partir da organização local, comunitária, nas periferias, nos
locais de trabalho. "O Brasil que queremos" seria resultante da força popular, das bandeiras de lutas construídas no cotidiano.
A segunda fase: entusiasmo
A resistência ao partido político como o "carro-chefe" da transformação do país foi aos poucos sendo deixada de lado pelo conjunto da militância. Já nas eleições de 1986, apesar do movimento social ter sido derrotado na bandeira da Constituinte livre, popular e soberana, cresceu o entusiasmo com as eleições para o Congresso constituinte.
A concepção de que a tomada do poder do aparelho do Estado resultaria numa revolução pacífica no país começou a ganhar ares de verdade absoluta.
Acreditava-se que o PT no poder levaria o país a mudanças radicais, e pela primeira vez na história se veria a redenção dos pobres. As eleições de 1989 são emblemáticas nesse sentido. Ao mesmo tempo, a conquista de prefeituras ao final dos anos 80 e a eleição de centenas de vereadores sinalizava que o caminho correto era esse.
As administrações petistas trabalhavam com o mote da "participação popular" e, em maior ou menor grau, adotavam o orçamento participativo, a inversão de prioridades, maior transparência. Nascia o modo petista de governar. Por outro lado, os vereadores petistas eram implacáveis na fiscalização dos recursos públicos e na defesa das minorias.
Nascia a convicção de que se numa prefeitura já se pode mudar muita coisa,
imagine-se quando o poder central estiver nas mãos do PT.
A certeza de que se fazia política de modo singular tornava a ilitância petista prepotente e arrogante, pouco generosa no acolhimento de outras propostas que não fossem as suas.
O crescimento permanente do partido, a eleição gradual de parlamentares, prefeitos e governadores significavam que a população descobria que o PT era de fato o partido certo. Tudo isso animava ainda mais a militância e o entusiasmo era crescente.
Um número cada vez maior de militantes se profissionalizava para dar conta das tarefas políticas. Inúmeras lideranças se tornavam assessores, liberados, coordenadores de mandatos parlamentares ou dirigentes partidários.
O PT passou a tomar parte importante da agenda que antes era dedicada a outras atividades e, mais do que isso, passou a imprimir a dinâmica das tarefas a serem realizadas. O final dos anos 80 e praticamente toda a década de 90, foi um tempo de muitas certezas e poucas dúvidas. A aposta no partido político como instrumento de mudanças se tornava
crença. Foram anos de generosa militância, de muita gratuidade, de convicções e certezas, mas, ao mesmo tempo, a crescente profissionalização da militância, o inchaço do partido, e práticas antes não aceita, como filiações em massa e sem critérios, passaram a ser toleradas.
Tudo isso sinalizava para o fato de que o partido não estava imune aos vícios tão comuns no mundo da política. Em que pese a verificação dos crescentes desvios, ainda se tinha a forte convicção de éramos diferentes e a conquista da presidência mostraria isso.
A terceira fase: desencanto
Poucos meses com Lula na presidência bastou para que muitos iniciassem um doloroso processo de desencanto com a aposta no partido como o meio e fim de tudo o que se acreditava. A chegada do PT ao Estado não significou rupturas com o status quo secular no país.
Pelo contrário, o PT no poder passou a desconstruir a hegemonia que anteriormente conquistou na sociedade e imprimiu um tom conciliador na política e conservador na economia.
Lula no governo iniciou um lento, porém vigoroso movimento de ampliação das alianças a partir de um ajuntamento de políticos oriundos de vários partidos. Foram resgatadas do limbo figuras políticas associadas aos métodos políticos da 'Velha República' - práticas coronelistas que agregam autoritarismo, assistencialismo e clientelismo e, pior, utilizam-se do espaço público para atingir objetivos privados.
O discurso da ética tão caro aos petistas foi caindo por terra e a crise do mensalão foi a gota d´água.
Por mais que se considere que esse fato foi insuflado pela mídia golpista da direita não se pode ignorar o complicado e perigoso modus operandi adotado pelas lideranças petistas envolvidas nas negociações políticas. A falta de ousadia na política decepcionou muita gente, porém outra frente decepcionou tanto quanto: o conservadorismo na economia.
Com o discurso de que era impossível dar um cavalo de pau num Titanic, o governo seguiu a risca a macroeconomia que anteriormente criticava e passou a adotar o que alguns chamam de "Pós-consenso de Washington", ou seja, por um lado manteve a política econômica conservadora, e por outro, implementou o Bolsa Família, programa de mitigação da pobreza e não de sua superação, um programa que funcionaliza a pobreza.
Porém, o que mais desencantou a militância política mais próxima dos movimentos sociais foi a falta de ousadia do governo com a agenda popular: reforma agrária, educação, saúde, meio ambiente, foram temas que receberam atenção tímida do governo. A convicção de que o governo Lula interromperia a escandalosa concentração de renda no país e avançaria em reformas de caráter distributivo de renda não aconteceu.
Há um sentimento entre lideranças do movimento social que o governo Lula rendeu-se à lógica economicista e o seu modelo desenvolvimentista revelou-se dependente do mercado. O Estado, agente indispensável no modelo desenvolvimentista colocou-se a serviço da lógica do mercado e
não como instrumento de correção às distorções estruturais da sociedade brasileira.
Há um reconhecimento de que o Estado no governo Lula se tornou mais forte e que a sua atuação sofreu redirecionamento em algumas áreas, entre eles, o processo de liquidação de sua capacidade de intervenção na sociedade foi interrompido como se viu com as privatizações, mas também se percebe que não foi sustado de todo o modelo economicista e
neoliberalista de decisões importantes na macroeconomia. Há ainda um outro problema, um modelo que insiste em matrizes energéticas e em mega-obras, justificáveis em décadas passadas, mas não hoje diante do impasse ambiental. Frustra ainda o peso do agronegócio brasileiro na conjuntura política e econômica.
A inserção do Brasil no comércio internacional acontece sobretudo pelas commodities (política de exportação de produtos primários *)agrícolas.
Em síntese, a análise do modelo (neo)desenvolvimentista do governo revela um forte caráter conservador na medida em que se trata de um modelo que propõe a inclusão social via crescimento econômico. Nesta perspectiva, o mercado se apresenta como o solucionador dos problemas sociais.
Em síntese, o desencanto se reflete na análise de que figura do Lula não representa mais a mudança, a radicalidade expressa no seu surgimento dentro do período histórico do reascenso do movimento de massas do final da década de 70 e dos anos 80. A crença de que
Lula no poder faria um governo sintonizado com o seu histórico de movimento social não se efetivou, o que se vê é a opção de Lula pela continuidade da modernização conservadora. Prevaleceu o Lula do ABC - da lógica do desenvolvimentismo associado ao capital transnacional ajustado aos tempos da globalização. Somem-se as frustrações com os rumos do governo Lula, o desencanto com os rumos do partido.
Um partido cada vez mais burocratizado, ossificado, desfibrado e controlado por caciques ao qual imprimem a sua lógica e os seus interesses.
São milhares os que ainda militam no partido, vêem avanços significativos no governo Lula e vibram com as campanhas eleitorais, porém, ao mesmo tempo, nos últimos anos outros milhares deixaram de participar ativamente da política institucional, afastaram-se da vida orgânica do partido político e assistem o processo eleitoral com pouco entusiasmo,já não acreditam na democracia representativa como um instrumento eficaz de transformação social. Esses, não deram totalmente as costas para a luta partidária, mas não fazem dela a sua prioridade militante. Se por um lado, o entusiasmo venceu a desconfiança, por outro, o desencanto superou o entusiasmo.

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