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Um momento glorioso no crepúsculo de Chet Baker

John Vinocur,Em Amsterdã

Há vinte anos, quando Chet Baker caiu para sua morte da janela de um quarto de hotel em Amsterdã, iniciou-se uma pós-vida que, em termos de sórdida e lúgubre, quase se compara à coisa real.

As gravações de solos desanimados parecem ter sido gravadas em microfones de R$ 30 e vendidas como lembranças da decadência de Chet Baker, lascas autenticadas do caixão do trompetista viciado.O macabro atrapalhou o sentimento.

A polícia determinou que a morte de Baker fora um acidente, mas não deu explicação definitiva para sua queda.

Então, um produtor de televisão holandês trouxe uma equipe de sensitivos ao hotel para sentir a verdadeira história. De olhos fechados e mão na testa, o mundo do além enviou mensagens de violência, de briga e de uma mulher.Se você gostava da música de Baker, talvez risse ou vomitasse.

Foram os excessos deprimentes, em vez de seu talento, que quase sempre dominaram a história de Chet.Como jovem músico de talentos melódicos excepcionais, sua beleza deprimida e voz levemente insinuante o tornaram famoso.

Anos mais tarde, quando se aprofundou no instrumento e ficou famoso por suas tempestades de lirismo e emoção, o que ficou foi seu rosto destruído pelo vício, sua prisão, sua dentadura que caía, sua tendência à destruição vagando pelo que restava dos clubes de jazz da Europa.Vinte anos depois de sua morte, no dia 13 de maio de 1988, aos 58 anos, pode-se dizer que basta. Este espaço quinzenal, que é sobre a apreciação plena dos prazeres melancólicos defende que existe um CD duplo e um DVD de Chet Baker brilhantes o suficiente para abafar as histórias aberrantes.

O álbum com um quarteto chama-se "Chet Baker in Tokyo", e o DVD, contendo duas faixas adicionais: "Chet Baker: The Complete Tokyo Concert".O material foi gravado ao vivo em junho de 1987, cerca de onze meses antes sua morte.A apresentação impressiona porque envolve, no nível mais alto, o que as pessoas disseram que Chet sabia fazer - tocar baladas com eloqüência quase dolorosa, poética - e o que muitos disseram que ele não poderia: tocar forte até fazer o trompete soar sua essência.

Isso significava, usando a frase de Art Farmer, um contemporâneo que quase desprezava Baker, "tocar como se estivesse reunindo as tropas".Em "Four", uma canção de Miles Davis, ou em "Arborway", do músico brasileiro Rique Pantoja, Baker, entrando e saindo sem esforço do tempo duplo, toca frases de crescente intensidade e originalidade que o retratam como um corajoso músico de bop.Em "Almost Blue", de Elvis Costello, Baker mostra seu desejo de segurar-se à melodia quase como se estivesse lendo uma pauta musical. Com seu som e ritmo, a faixa demonstra o que Charlie Parker chamou de aquela forma de tocar "doce, suave e ainda assim direta e honesta daquele gatinho branco".Em "My Funny Valetine", a marca de Baker e sua melhor música, a emoção e o veludo estão presentes em breve vocal, mas também estão trompetes fortes e agressivos, em contraste.

Não é o chamado às tropas, mas é jazz em toda sua força. É Baker com duas vozes super-impostas. É como se Chet, colocando de lado os anos de destruição, dissesse: este é o músico que sou.

O concerto de Tóquio me fascinou e emocionou como quando Miles Davis, em sua decadência, tocou "Time After Time", ou como Stan Getz, não muito antes de sua morte, fez nos álbuns "Serenity" e "Anniversary" com Kenny Barron.

São desempenhos de remissão musical. São desempenhos de tamanha qualidade e sinceridade que dão uma sensação de contentamento e completude.Como isso aconteceu com Baker, que nunca derrotou (ou de fato combateu) seu vício?Perguntei sobre a sessão tanto a Harold Danko, pianista de Chet e hoje diretor do departamento de estudos de jazz da Escola de Música Eastman em Rochester, Nova York, e a Hein Van de Geyn, excelente músico holandês que era baixista de Baker na época.

Dank, que tocou solos e acompanhamentos soberbos, disse que o bom desempenho teve a ver com a sensação de união da banda e com a confiança e conforto que Baker sentia com ela, em vez das sessões de ritmo usuais, de músicos desconhecidos locais.Assim, o resultado ficou a quilômetros de distância das sessões de gravação nas quais o produtor encomendava um disco, alguém escutava Sinatra e escrevia as letras para Chet cantar dez minutos depois.

Ou uma gravação encomendada de dois lados de 50 minutos em que Baker olhava para o relógio e parava no meio do coro porque já estava em 103 minutos.Também é fato - e não há como fugir - que, durante as três semanas em que Baker excursionou pelo Japão, ele estava tomando metadona, por respeito às leis rigorosas do Japão contra narcóticos e a dificuldade de obter heroína.

Eu assisti a uma parte do concerto em DVD com Van de Geyn em sua casa em um canal em Dordrecht, perto de Roterdã. Enquanto Baker tocava linhas longas e fluentes, e continuava sem parar, Van de Geyn sorria e abria os braços ao máximo.A música era imensa."O Japão foi algo completamente diferente", disse ele. "Estava corado. Ele de fato comia. Ele bebeu um pouco de conhaque.

Estava falante. Estava na melhor forma que jamais o vi."Para Danko, Baker viu-se por uma vez tocando para pessoas que não estavam esperando secretamente que errasse. "Era algo fresco, que fluía sempre."Não havia julgamentos morais de assistentes sociais.

Um músico lendário maravilhoso, na maior parte da vida miserável, se recompôs para um momento final não muito conhecido que está vivo e brilhante.Baker, é claro, era honesto consigo mesmo. No aeroporto antes de deixar Tóquio, segundo contam, Peter Hujits, gerente de estrada do quarteto, vibrava com a turnê e seus resultados.

Chet respondeu-lhe que mal podia esperar "para voltar para Paris e ficar louco".Eu perguntei a Van de Geyn sobre isso. "Soa absolutamente verdadeiro", disse ele.


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